Nos dias de hoje, estamos cercados por diversos aparelhos eletrônicos que possuem circuitos inteligentes. E boa parte destes dispositivos usam corrente contínua. Isso implica que a tensão que chega em nossas casas tem que ser convertida para alimentá-los. Mas e quando precisamos fazer o contrário? É aí que entra o inversor de tensão.
Atualmente o inversor de tensão tem tido cada vez mais importância nos circuitos dos painéis solares. Isso, porque os painéis solares geram tensão contínua, e, para alimentar sua residência, é necessário converter esta tensão em alternada.
O que é
O inversor de tensão é um dispositivo que serve para converter uma tensão contínua em alternada. Os inversores mais antigos recebem em sua entrada uma tensão constante e geram um sinal de onda quadrada alternado. Isto é, ora a corrente flui para um lado, ora para outro.
Porém, os mais recentes já utilizam algumas técnicas para gerar uma senoide na saída. E se essa senoide tiver uma tensão RMS de 127V e oscilar 60 vezes por segundo, ela será igual ao sinal recebido nas casas brasileiras. Pois o sinal que recebemos em casa, chamado fase, tem tensão RMS de 127V e uma frequência de 60Hz.
Funcionamento do inversor de tensão
Ideia
Para explicar a lógica do inversor de tensão, vou considerar o seguinte circuito:
Imagine que, neste circuito, primeiro eu ligo a chave 1 e a chave 4. O que teremos na carga é uma tensão constante. E, se ligarmos apenas o outro par de chaves (S2 e S3), também teremos uma tensão constante.
Entretanto, no primeiro caso a corrente flui da esquerda para a direita da carga, e no segundo da direita para a esquerda da carga. Além da mudança no sentido da corrente, a tensão também será positiva em um momento e negativa no outro (o sentido depende da sua escolha de referencial).
Ou seja, se ficássemos comutando as chaves entre (S1 e S4) e (S2 e S3) teríamos, em cima da carga, uma tensão alternada. Isso porque a tensão mudaria entre +Vcc e -Vcc.
Teoricamente o circuito funciona bem, mas não tem como ficar trocando as chaves manualmente 60 vezes por segundo (60Hz). Para isto, temos que recorrer a algum tipo de componente eletrônico para substituir as chaves, que é o que veremos abaixo.
Comutação automática
Para a nossa sorte, existe um componente perfeito para atuar como chave eletrônica do inversor de tensão, que é o transistor.
Nesse caso, usa-se o MOSFET para substituir as chaves, já que ele é capaz de dissipar bem mais potência quando comparado a outros transistores. Seguindo esta lógica, o circuito das chaves deve ser o seguinte:
Recomendo ver esta simulação para entender o funcionamento do MOSFET.
Agora, basta ligar um circuito de controle nos GATEs dos MOSFETs para gerar a tensão alternada em cima da carga. O MOSFET tipo P será acionado com um sinal de nível baixo em seu GATE e o tipo N com um sinal de nível alto em seu GATE.
O exemplo mais simples de circuito de controle é um que fica apenas comutando entre os MOSFETs (Q1, Q4) e (Q2, Q3). Este circuito gerará uma onda quadrada alternada na carga.
Agora, para gerar um sinal alternado mais complexo, é possível recorrer à um circuito de controle que utilize PWM para controlar os GATEs. Desta forma, é possível gerar uma onda semelhante à senoidal, porém com degraus dependendo da resolução do PWM (parecida com a imagem abaixo).
Existem outras técnicas para criar o circuito de controle e não pretendo descrevê-las ou explicá-las. Mas, no tópico abaixo, mostrarei um exemplo utilizando o Arduino.
Inversor de tensão usando o Arduino
Com o propósito de teste, vou mostrar como criar dois inversores de tensão usando um Arduino:
- O primeiro será para gerar uma onda quadrada de mesma amplitude da fonte de entrada.
- O segundo será para gerar uma onda quadrada de amplitude variável.
- Para outros tipos de sinais (como o senoidal), vou mostrar um direcionamento.
Inversor de tensão simples com amplitude máxima
Circuito
A essência do circuito é a mesma do mostrado no tópico anterior. Neste caso, Vcc é o 5V do Arduino e o GND é o GND do Arduino. Já no caso dos GATEs dos MOSFETs, eles foram ligados nos pinos digitais 2 e 3. Veja o circuito abaixo:
Obs.: A carga está sendo simbolizada por um resistor de 1kΩ.
Repare que o pino D2 está ligado nos MOSFETs Q1 e Q3. Desta forma, quando D2 estiver em nível alto, Q3 conduz e Q1 não (já que são de tipos diferentes). E o mesmo é aplicável ao pino D3. Ou seja, utilizando apenas 2 pinos, é possível controlar todos os MOSFETs.
Por exemplo, definindo D2 em nível baixo e D3 em nível alto: Q1 e Q4 conduzem, e Q2 e Q3 ficam “desabilitados”. Portanto, a corrente irá fluir por Q1, passar pela carga (R4) e depois por Q4. A lógica contrária é aplicável quando D2 fica em nível alto e D3 em nível baixo. E é isto que faremos no código.
Código completo
O procedimento do código é o mesmo explicado acima. E, para alterar a frequência do sinal gerado, basta alterar a linha 5 do código. O valor máximo da frequência para este código é cerca de 500Hz.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 | #define m13 2 #define m24 3 // Frequência do sinal de saída #define F 60 // Delay em milissegundos calculado automaticamente (metade do período) #define DELAY 1000/(2*F) void setup() { pinMode(m13, OUTPUT); pinMode(m24, OUTPUT); } void loop() { digitalWrite(m13, LOW); digitalWrite(m24, HIGH); delay(DELAY); digitalWrite(m13, HIGH); digitalWrite(m24, LOW); delay(DELAY); } |
Resultado
Resolvi testar o circuito simulando na plataforma Tinkercad. O teste foi feito com uma frequência de 60Hz e resultado está mostrado abaixo:
O sinal de saída foi de acordo com o esperado, já que o osciloscópio indicou que a tensão alternou entre negativa e positiva (entre cerca de -5V e +5V). Além disto, a frequência, aparentemente, também foi próxima do desejado (período = 3,2 quadrados * 5ms por quadrado = 16ms ~= 60Hz).
Cheguei a medir a tensão em cima da carga com um multímetro para um sinal de baixa frequência e ele marcou 4,99V. Teoricamente deveria ser 5,0V, mas esta diferença é devida às quedas de tensão nos MOSFETs. Este é um ponto que não tem muito como fugir, mas 0,01V de diferença é muito pouco.
Inversor de tensão com amplitude variável
Circuito
Para alterar a amplitude do sinal de saída, os sinais de controle serão pulsados com sua largura de pulso modulada (PWM). Sendo assim, não é possível mais utilizar os pinos 2 e 3, já que apenas o pino 3 no Arduino UNO tem suporte à PWM.
Então, é necessário alterar o pino 2 para algum outro com PWM. Resolvi mudar os 2 e os conectei nos pinos D5 e D6. Veja o circuito final abaixo:
Código completo
Além de poder mudar a frequência assim como antes, agora é possível alterar a amplitude positiva e a negativa do sinal de saída. E isto é feito nas linhas 7 e 8.
O fato do sinal ser negativo ou positivo depende do seu referencial. No meu caso, o positivo é o lado dos MOSFETs Q2 e Q4.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 | #define m13 5 #define m24 6 // Frequência do sinal de saída #define F 60 // Amplitudes em Volts (não precisa colocar um - na amplitude negativa) #define A_POS 2.8 #define A_NEG 3.6 // Delay em milissegundos calculado automaticamente (metade do período) #define DELAY 1000/(2*F) // Conversão das amplitudes para o PWM (calculado automaticamente) #define PWM_POS (A_POS*255.0)/5.0 #define PWM_NEG (A_NEG*255.0)/5.0 void setup() { pinMode(m13, OUTPUT); pinMode(m24, OUTPUT); Serial.begin(9600); Serial.println(A_NEG); } void loop() { // Gera a parcela de sinal positivo // Fixa o pino 6 em nível baixo (Q2 = habilitado, Q4 = desabilitado) // Faz o PWM no pino 5 mudando a intensidade de "condução" do MOSFET 3 // e por consequência do MOSFET 1 também, mas ele não faz diferença. analogWrite(m13, PWM_POS); digitalWrite(m24, LOW); delay(DELAY); // Gera a parcela de sinal negativo // Fixa o pino 5 em nível baixo (Q1 = habilitado, Q3 = desabilitado) // Faz o PWM no pino 6 mudando a intensidade de "condução" do MOSFET 4 // e por consequência do MOSFET 2 também, mas ele não faz diferença. digitalWrite(m13, LOW); analogWrite(m24, PWM_NEG); delay(DELAY); } |
Resultado
Aparentemente o sinal de saída possui as mesmas amplitudes do caso anterior (-5V e +5V). Mas isto é apenas impressão, pois, na realidade, a saída está “ligando e desligando” rapidamente conforme o sinal do PWM (exemplo abaixo).
Por conta desta rápida comutação, o valor MÉDIO da amplitude será igual ao valor estipulado no código. Para comprovar este ponto, diminui a frequência do sinal de saída e medi a tensão com um multímetro (que mede valor MÉDIO de tensão). Se a frequência do sinal for elevada, o multímetro não será capaz de ler o valor de forma adequada. Veja o resultado adiante:
Para a parcela positiva do sinal, a amplitude foi de 2,76V ficando 1,4% distante do valor desejado. Para a parcela negativa, esta diferença foi de 1,1%. Talvez seja possível diminuir esta diferença melhorando a conversão da tensão em valor de PWM. Dependendo do nível de exatidão desejado, é melhor seguir outra abordagem.
Inversor de tensão gerando outros sinais (senoidal)
Para gerar outros tipos de sinais além da onda quadrada, é possível recorrer também ao PWM. Mas, abordar este assunto foge do escopo deste post.
Além do mais, o site já possui alguns conteúdos a respeito mostrando como gerar outros tipos de sinais:
Aplicações do inversor de tensão
Como dito anteriormente, o inversor de tensão pode ser usado em:
- Circuitos de painéis solares
- A tensão gerada por um painel solar é armazenada em uma bateria. E essa bateria precisa alimentar uma residência, por exemplo. Para isso, converte-se a tensão da bateria para CA e conecta-se ela na rede de energia da casa.
- No-break
- O no-break possui uma bateria que mantem a energia durante um tempo caso aconteça algum apagão. E, para que essa bateria continue alimentando seus aparelhos, é necessário usar um inversor.
- Circuito para uma bateria comandar o motor de um carro elétrico.
- Demais casos onde seja necessária a conversão CC -> CA.
Gerando sinal alternado com Arduino
Gerando sinal alternado com MCP4725
Obrigado, aprendi
É ótimo ter esse retorno. Espero que os demais posts te possibilitem aprender mais.
Bom dia
preciso de um inversor q pegue corrente contínua e saia alternada
pegarei de uma placa solar e ligara uma bomba c/a
?
Vc tem ?
Whats 62983380958
Bom dia. O site não mexe com vendas, portanto, não terei um inversor. E também não sei te informar uma boa referência para comprar. Em último caso dê uma olhada no mercado livre observando a tensão de entrada, de saída e a potência dele.
Sou eng. mecânico, duma época em que não havia alimentação em CC tao recorrente como hoje. Daí, a minha ignorância técnica. E daí, pergunto: máquinas eletromecânicas não giram se alimentadas com CC, pela tensão eficaz em CA, por ex., de 110 V, 220 V, etc.? E por que?
A pergunta visa exclarecer-me se posso alimentar um condicionador de ar direto dum banco de baterias, na minha casa, sem passar pelo inversor CC/CA.
Olá, Ricardo. Existem vários tipos de motores, tendo aqueles que funcionam unicamente alimentandos por CA, aqueles que operam só em CC e um tipo especial chamado de motor universal que aceita CC e CA. Por conta disso, se você alimentar o condicionador utilizando tensão contínua, ele não deve funcionar por ser do tipo que opera unicamente em CA.
Agora, porquê um motor desse tipo não funciona em CC? Vou tentar simplificar a explicação, porque o funcionamento do motor é um pouco complexo. A parte que você alimenta o motor é chamada de estator e ela está eletricamente separada da parte do motor que gira, chamada de rotor. O estator “comunica” com o rotor através do campo magnético que ele gera. Para que o motor funcione adequadamente, esse campo magnético precisa oscilar, pois a máquina precisa gerar o que é chamado de “campo girante”. E a oscilação do campo magnético vem justamente da oscilação natural da CA. Se você alimentar esse tipo de motor com CC, não haverá a geração do campo girante, pois não haverá variação do campo magnético já que a tensão é continua e não oscila. Procure por animações do “campo girante” no google que talvez te ajude a entender.
Obs: a explicação que dei acima seria para o caso de um motor trifásico, mas provavelmente o seu condicionador é monofásico. Um motor monofásico tem uma complexidade adicional, pois ele usa um circuito complementar com capacitor para gerar o efeito de uma fase adicional.
Espero ter esclarecido sua dúvida.
Fábio,
Parabéns! Ótimo material. Estou fazendo um projeto que necessito gerar um sinal PPM entre -800mV a 1800mV no pino 10 do Arduino. Como aplicar este método para obter o resultado citado? Desde já agradeço.
Olá, André
Muito obrigado, mas infelizmente havia um equivoco no circuito do MOSFETs. Aproveitando seu comentário, resolvi corrigir o problema e reescrever algumas partes do posts.
A sua ideia é gerar um PWM para controlar os MOSFETs e jogar esse sinal resultante no pino 10? Ou o pino 10 seria o responsável por gerar esse PWM?
De todo modo, é possível gerar sim um sinal que varie de -800mV a 1,8V usando PWM. Se você desejar, posso acrescentar um tópico neste post explicando como.
Fabio,
A ideia seria utilizar o pino 10 para gerar o sinal. Mas, diante do seu post, verifiquei que terei que utilizar mais de uma saída para conseguir a amplitude necessária. Ficaria muito grato se acrescentar ao post o tópico explicando como gerar o sinal com amplitude de -800mV a 1,8V.
Está feito, André. Qualquer dúvida pode voltar a perguntar!
Fabio,
Parabéns pelo ótimo trabalho e muito obrigado. Ajudou muito!
Brigadão André. Muito bom saber que te ajudou!
muito show! Parabéns!
Muito obrigado, Onofre!
Sou Engenheiro Eletronico e quero parabenizar a Excelente explicação, direta simples e verdadeira demonstra a seriedade que os assuntos são tratados , parabéns .
Que ótimo que você teve esta impressão, Dirceu. Fico agradecido pelo comentário. Espero que você goste dos demais assuntos abordados no site.
olá pessoal !
acho oportuno dialogar com pessoas da área de eletrônica. Estou analisando um driver de potência ,ponte h com 4 mosfets na topologia 2 braços.
A pergunta /dúvida é a seguinte : com o driver energizado e, sem carga conectada,não deveria haver nenhum consumo, caso haja, seria um curto parcial no chaveamento ? OU SEJA; não simetria do pwm ? Obrigado pelo apoio.
Olá, Arnaldo. Existe um consumo sim. Praticamente todo circuito consome um pouco de corrente quando alimentando mesmo que ele esteja no estado “parado”. Vejamos o exemplo do CI ponte H dupla L293d: o circuito lógico dele (chaves e diodos internos) pode consumir até cerca de 20 mA mesmo que não exista nenhuma carga sendo alimentada. Mas claro, poderia acontecer sim um curto se você fechar duas chaves do mesmo braço. No caso do CI que comentei não tem como, porque as chaves do mesmo braço são controladas em conjunto (se uma fecha, a outra abre e vice-versa).
Qual o valor do converssor cc/ca trifasico de 70000w .
Não entendi sua pergunta, poderia elaborar mais?
Amigo bom dia vc poderia poderia me vender um esquema de um inversor de 3000w a 3500 w 24 v cc para 110 ca
Olá, Aloisio. Infelizmente não tenho condições de produzir um esquema desses para você no momento.
Gostei muito do seu conteúdo sobre Conversores de Corrente Contínua.
Valeu!
Boa noite, você poderia listar quais foram os componentes utilizados para a montagem do circuito?
Boa noite, Bruno. Infelizmente não vou ter uma lista para te passar, pois os circuitos mostrados no post foram apenas simulados usando MOSFETs genéricos. Mas você pode procurar MOSFETs que possuem o limiar VGS abaixo de 5V. Isto é, que comutam seus estados se a tensão Gate-Source for menor do que 5V. Não recomendo pegar um com um VGS muito próximo de 5V, pois normalmente o VGS informado não considera o limiar para você passar a máxima corrente suportada pelo MOSFET.
Obs: o valor VGS do MOSFET P vai ser negativo, mas na minha fala acima eu considerei o módulo dele pra simplificar.
Muito obrigado!
Por nada!
Maravilha muito bom não esperava encontrar está explicação muito obrigado vou salvar aqui pra estudar bem chow
Show de bola. Obrigado pelo comentário, José!