O amplificador operacional é um dos componentes mais úteis da eletrônica. Isso, porque ele pode ser usado para criar diversos circuitos interessantes. Sendo assim, neste post, aprenderemos o que são os amplificadores operacionais, como funcionam e quais são suas características.
O que é o amplificador operacional
O amplificador operacional (ou amp. op.) é um componente eletrônico que, como o nome sugere, amplifica a tensão e a corrente de entrada. Isto é, o sinal de saída (corrente ou tensão) é resultado do sinal de entrada multiplicado por um certo valor (muito elevado no caso da tensão).
Acontece que, o amplificador operacional é um componente não intuitivo e que possui “regras” que o definem. Portanto, os pontos que serão apresentados adiante não possuem uma lógica clara, já que mostrarei o amp. op. de forma direta. Embora, em um tópico mais a frente, mostrarei, resumidamente, o circuito por trás dele.
Enfim, considere a imagem abaixo que mostra a simbologia do amplificador operacional com algumas nomenclaturas usuais.
Como pode ser visto, o amp. op. é representado com um “triângulo” com 4 entradas e uma saída. E o que cada uma significa ficará mais claro nos tópicos seguintes.
Entradas de alimentação e configurações
Duas entradas do amp. op. servem para alimentar o circuito interno do amplificador, que são o Vcc e o Vee. Estas entradas também definem os limites de tensão da saída. Isto é, a tensão de saída só poderá variar entre Vee e Vcc. Sendo Vee o limite inferior e Vcc o limite superior. Por conta disto, Vcc é uma tensão positiva e Vee é uma tensão negativa.
É importante lembrar que deve existir um referencial (terra), assim como em qualquer circuito. E as tensões (entradas e saída) são relativas à ele.
De todo modo, existem duas formas comuns de alimentar o amp. op., que são:
Fonte simples
Nesta configuração, uma única fonte é usada e Vee é ligado ao negativo desta fonte que é o terra. Com isto, a tensão de saída varia entre 0 e Vcc. A imagem abaixo mostra o circuito desta configuração com a nomenclatura usual das tensões de entrada e saída.
Esclarecendo a nomenclatura das tensões:
- vP – Tensão da entrada não-inversora (referida ao terra).
- vN – Tensão da entrada inversora (referida ao terra).
- vD – Diferença de potencial entre a entrada não-inversora e a entrada inversora.
- vD = vP – vN
- vO – Tensão de saída (referida ao terra).
- Vcc – Tensão da fonte (referida ao terra).
Fonte dupla
Nesta configuração, duas fontes são usadas, uma para fornecer uma tensão positiva (Vcc) e outra para uma tensão negativa (Vee). Sendo que as duas são interligadas para gerar o referencial. É comum de se utilizar fontes de tensões iguais para gerar uma simetria na saída, por exemplo +12V e -12V. Veja o circuito desta configuração abaixo:
Apesar da importância das entradas de alimentação, é usual desenhar o amplificador operacional sem elas e considerar que ele está sendo alimentado por duas fontes simétricas (ex: +15V e -15V ou +12V e -12V).
Circuito equivalente do amplificador operacional
Para começar a entender o amplificador operacional, vamos analisar o seu circuito equivalente. Este circuito é um modelo (representação) do funcionamento do amp op. E ele está apresentado adiante:
Vale lembrar que as tensões são todas referidas ao terra (com exceção de vD).
Então, a partir da imagem acima, é possível ver que o circuito de entrada nada mais é do que uma resistência (RI) que interliga a entrada inversora e a não-inversora.
Além dele, temos, na saída, uma fonte de tensão dependente em série com uma resistência (RO). E a tensão desta fonte é dada pela seguinte expressão:
Avol*(vD-Vos)
Sendo que Vos é uma tensão chamada de offset.
Ou seja, a tensão no ramo de saída é igual a tensão de entrada (vD) multiplicada por um valor (Avol) chamado de ganho. Isso caracteriza a amplificação do sistema, conforme foi comentado no inicio deste post. A tensão de offset, como o nome sugere, serve para deslocar a tensão de saída em relação à entrada.
Este circuito ficará mais claro nos tópicos seguintes.
Função de transferência
Diante da expressão do tópico anterior, é possível esboçar uma curva da tensão de saída em função da tensão de entrada, chamada de função de transferência. Analise a imagem abaixo com calma.
A partir do gráfico acima, podemos fazer alguns comentários:
- A tensão de saída não varia exatamente entre Vee e Vcc, como eu havia dito. A tensão máxima (VOmáx) e a mínima (Vomín) serão um pouco menor devido a queda de tensão em cima da resistência de saída (RO) do amp op.
- Para um circuito sem “perdas” (RO = 0), aí sim a saída irá variar entre Vee e Vcc.
- A condição em que a tensão de saída atinge seu valor máximo ou mínimo é chamada de saturação. Isto é, aumentar vD não provoca nenhum efeito se vO atingiu o valor máximo, e diminuir vD não provoca nenhum efeito se vO atingiu o valor mínimo.
- Além da saturação, existe a região linear da curva, que é uma região de interesse quando se trabalha com o amplificador operacional.
- A inclinação da reta na região linear é definida pelo ganho (Avol).
- Avol = vO/vD (De forma simplificada).
- A tensão de offset (Vos) desloca a curva no eixo horizontal.
Características de um amplificador operacional
Amplificador ideal
Tendo em vista o que foi apresentado nos tópicos anteriores, já é possível ter uma boa ideia do funcionamento do amplificador operacional. Mas, ainda é possível simplificar o circuito dele de forma a facilitar as análises futuras.
Esta simplificação envolve em criar um modelo ideal do amp. op., o qual pode ser utilizado para desenvolver muitos circuitos práticos. Mas, é claro que, mesmo sendo uma simplificação válida, não pode-se deixar de lado o comportamento não ideal de um amplificador operacional real.
Enfim, um amplificador ideal possui as seguintes características:
- RI -> ∞ (tende ao infinito)
- Isto significa que a corrente de entrada é igual a 0. Ou seja, não há circulação de corrente na entrada inversora e nem na não-inversora.
- Ro = 0
- Com isto, a malha de saída consistirá apenas da fonte de tensão dependente. E, conforme mencionei, para este caso, a tensão de saída irá variar entre Vee e Vcc.
- Vomáx = Vcc
- Vomín = Vee
- Vos = 0 (tensão de offset é nula)
- Isso faz com que a função de transferência fique centralizada.
- E, nesta condição, vO = 0 para vD = 0.
- Avol -> ∞ (o ganho tende ao infinito)
- Se o ganho é infinito, então, para qualquer valor de vD diferente de 0, o amplificador irá saturar. É como se a região linear não existisse.
- O amplificador operacional apresenta o mesmo comportamento independente da frequência do sinal de entrada.
- Em termos técnicos, ele possui uma largura de banda infinita.
Amplificador real
Conforme citado, é interessante conhecer o amplificador real para ter uma boa noção da resposta de circuitos reais. Sendo assim, vou me basear no datasheet de um amplificador comumente usado, o LM741.
- RI é um valor elevado.
- No caso do LM741, o RI típico é igual a 2MΩ. E a corrente de entrada típica será de algumas dezenas de nanoamperes.
- Ro é um valor muito pequeno.
- Mesmo assim, ainda haverá diferença entre Vomáx e Vcc ou Vomín e Vee.
- No caso do LM741, essa diferença pode chegar a uns 2 volts (depende do circuito ligado à saída e da tensão de alimentação).
- Vos é um valor pequeno.
- No caso do LM741, o Vos típico é igual a 1mV.
- Portanto, vO não será 0 se vD for 0.
- Avol é um valor elevado.
- No caso do LM741, o ganho típico é de 200000.
- Mesmo não tendendo ao infinito, é um ganho elevadíssimo, pois 75μV já são suficientes para saturar o amp op para Vcc = 15V (75μ * 200000 = 15V).
- O comportamento do amplificador operacional será consistente apenas para uma limitada faixa de frequência do sinal de entrada.
- No caso do LM741, a largura de banda típica é de 1,5MHz.
- O efeito prático disso é que o ganho diminuirá quanto maior for a frequência do sinal aplicado na entrada.
- Além do mencionado, um amp. op. real não é capaz de variar a tensão de saída instantaneamente. Na realidade, ele possuirá um parâmetro que diz quantos volts ele consegue variar em 1 microssegundo, chamado de Slew rate.
- No caso do LM741, o Slew rate é de 0,5V/μs.
- Este parâmetro é importante em aplicações onde o amplificador precisa responder rapidamente.
Realimentação e curto-circuito virtual
Na hora de criarmos circuitos com o amplificador operacional, veremos que muitos deles ligam a entrada e a saída por meio de um resistor, capacitor, indutor etc. E este tipo de ligação é chamada de realimentação, pois a saída está sendo “realimentada” na entrada.
Existem dois tipos de realimentação, a positiva e a negativa. A realimentação negativa ocorre quando a saída é ligada na entrada inversora. E, quando a saída é ligada na entrada não-inversora, é chamado de realimentação positiva.
Com isto, podemos passar para um conceito muito importante na análise dos circuitos com amplificador operacional, que é o curto-circuito virtual. Para isto, vamos escrever a expressão da tensão de saída do amplificador ideal:
vO = Avol*vD
vO = Avol*(vP-vN)
vO/Avol = vP-vN
Como Avol tende ao infinito, então a relação vO/Avol tenderá a 0:
vO/Avol = 0 = vP – vN
vP – vN = 0
vP = vN
Nesse sentido, a tensão da entrada inversora será igual a da entrada não-inversora. Portanto, é como se houvesse um curto-circuito entre estas duas entradas. Mas não é um curto-circuito propriamente dito, pois as duas não estão interligadas diretamente, por isto é chamado de curto virtual.
Esta análise é ideal, mas é suficientemente exata para a maioria das aplicações práticas. E ela só pode ser seguida se duas condições forem cumpridas:
- O amplificador não estiver saturado.
- Se a realimentação for negativa.
Circuito por trás do amplificador operacional
Anteriormente, mostrei um circuito que modela o amplificador operacional, mas aquele circuito é apenas um modelo simplificado. Um amp. op. real é, na verdade, um arranjo de transistores, sejam eles do tipo BJT, J-FET ou MOSFET. Para ilustrar com um exemplo real, a imagem abaixo mostra o circuito interno do amplificador LM741.
Para aprender a usar o amplificador operacional para criar circuitos úteis e interessantes, veja o post sobre:
Amplificador operacional – Circuitos típicos
Muito boa a explicação, estou aprendendo eletrônica e estou acompanhando o canal no youtube e o site Parabéns amigo, e obrigado
Muito obrigado pelo comentário, Miguel. Fico feliz que o site e o canal estejam te ajudando a aprender mais sobre eletrônica. Espero poder continuar assim. Abraço!
Este conteúdo é de grande utilidade no meio técnico,auxilia o aprendizado e conhecimento,
parabéns pela divulgação do material.
Olá, Arnaldo. Que ótimo que você gostou do conteúdo. Vez ou outra eu também acabo consultando este material para relembrar alguns pontos. Obrigado pelo comentário!
Boa noite meu amigo! Muito obrigado pelo conteúdo, esclarecedor demais! Sou entusiasta buscando desenvolver dispositivos pro setor automobilístico, mais especificamente sistemas de GNV, e o amplificador operacional tem diversas aplicações nesse ramo. Estou anciosamente no aguardo do post em que vai ensinar a usar o amp efetivamente. Vou passar a acompanhar o site, ganhou um seguidor. Um grande abraço, Deus abençoe!
Boa tarde, Romario. Que maravilha, fico feliz em ler seu comentário. Aqui no site já tem um post ensinando alguns circuitos típicos dos amp ops. Só agora, pelo seu comentário, que percebi que esqueci de atualizar o texto deste post com o link para o outro post que mencionei, então dê uma olhada. Enfim, agradeço bastante pelo seu interesse em acompanhar o site. Qualquer sugestão é bem-vinda, então fique a vontade para sugerir novos assuntos. Sucesso nos seus projetos e que Deus te abençoe também. Abraço!
Explicação muito boa!
Eu estou precisando de uma informação detalhada sobre um exemplo de utilização do Amp-op.
Você tem algum material sobre isso?
Olá, Waldinei. Muito obrigado! Aqui no site tem um post mostrando alguns dos circuitos básicos dos amp ops. Veja se você encontra o que procura. Caso contrário, só mandar mensagem com a sua aplicação, que tento te ajudar.
Gostei do material
Show de bola, Umberto!